Therezinha Zerbini
Therezinha Zerbini | |
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Nome completo | Therezinha de Godoy Zerbini |
Nascimento | 16 de abril de 1928 São Paulo, SP |
Morte | 14 de março de 2015 (86 anos) São Paulo, SP |
Nacionalidade | brasileira |
Cônjuge | Euryale de Jesus Zerbini |
Ocupação | assistente social, advogada e ativista de direitos humanos |
Therezinha de Godoy Zerbini ORB[1] (São Paulo, 16 de abril de 1928[2] – São Paulo, 14 de março de 2015) foi uma assistente social, advogada e ativista de direitos humanos brasileira, fundadora e líder do Movimento Feminino pela Anistia.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Therezinha Zerbini foi casada com o general Euryale de Jesus Zerbini, vinte anos mais velho que ela. Eles se conheceram em 1951, quando ele comandava a Força Pública Therezinha trabalhava como assistente social do Hospital Mandaqui, no atendimento a crianças tuberculosas. Ela própria havia tido a doença, alguns anos antes.
O general Euryale comandava a unidade de Caçapava à época do golpe militar de 1964 e foi um dos quatro generais (o único com comando de tropa) a assumir uma posição legalista, contrária aos golpistas. Por isso acabou por ter seus direitos políticos cassados e foi reformado.
Por ter ajudado Frei Tito a conseguir o sítio (pertencente a um amigo da família Zerbini), em Ibiúna), onde seria realizado o congresso da UNE - organização proscrita pelo regime - Therezinha respondeu a um inquérito policial militar. Foi indiciada em dezembro de 1969 e afinal enquadrada na Lei de Segurança Nacional.[3]Foi presa em sua casa, no dia 11 de fevereiro de 1970 e ficou na prisão por oito meses.[4] - seis dos quais no presídio Tiradentes, em São Paulo Na prisão, conviveu com a então guerrilheira Dilma Roussef.[5][6][7]
Em 1975, declarado pela ONU Ano Internacional da Mulher,[8] cria o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), unido à luta pela redemocratização do Brasil. No mesmo ano, ocorre a morte do jornalista Vladimir Herzog na prisão, seguindo-se, na Catedral da Sé, a primeira grande manifestação popular de protesto, desde o AI-5.[9] Ainda em 1975, o Movimento lança seu manifesto em favor da anistia ampla e geral, conseguindo colher 16.000 assinaturas de apoio, e empenhou-se nas denúncias sobre a existência de presos, torturados e perseguidos políticos no Brasil - fato que por muito tempo fora sistematicamente negado pelo governo militar. Daí por diante foram sendo formados Comitês Femininos pela Anistia nas principais cidades do país. [10]. "Comecei pelo Rio Grande do Sul. Coloquei os manifestos numa caixa e mandei pelo correio para a Dilma, que foi muito habilidosa," conta.[5]
O movimento pela anistia
[editar | editar código-fonte]O Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), como movimento de oposição, surge num momento em que a luta armada refluía, e a "democracia passa a ser valorizada como um objetivo em si e, com ela, a organização da sociedade e a participação no jogo eleitoral, mesmo sob limitações." [3] [11]O movimento é o marco da virada: a atividade política volta ao espaço público, agregando e mobilizando vários setores - o MDB, o PCB e outros partidos políticos ainda clandestinos, a esquerda católica, acadêmicos, associações de classe, além dos exilados, presos políticos e suas famílias. Fazia oposição às claras: era um movimento legalizado, com ata de fundação e estatuto registrado em 1976,[12] constituído basicamente por mulheres católicas, como a própria Therezinha, e de classe média[13] - a mesma classe que, dez anos antes, marchara contra o governo João Goulart e apoiara a instauração do regime militar que agora exilava, prendia, torturava e matava seus filhos e netos.[14] [3] Nesse sentido, fazia oposição "por dentro" do regime, jogando contra ele a sua própria justificativa inicial - preservar a democracia ameaçada pelo totalitarismo.
Em fevereiro de 1978, o movimento pela anistia seria ampliado com a criação do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) no Rio de Janeiro Formado inicialmente por advogados de presos políticos e com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil, o Comitê pedia a anistia ampla, geral e irrestrita.
Em março de 1978, durante a visita do então presidente norte-americano Jimmy Carter a Brasília,[15] Zerbini conseguiu driblar a segurança e entregar uma carta à primeira-dama, Rosalynn Carter, em nome das mulheres brasileiras do movimento pela anistia. A carta, sem fazer referências diretas ao regime, dizia, na abertura: "Nós, que lutamos por justiça e paz..."[5][3]
Embora considerada comunista, pelos órgãos de segurança, e como feminista, pela imprensa, Therezinha Zerbini declara nunca ter aderido a nenhuma dessas correntes.
Militância política após a anistia
[editar | editar código-fonte]Após a revogação do AI-5 (1978), esteve ao lado de Leonel Brizola no processo de refundação do PTB, em São Paulo, e depois, na criação do PDT, em 1979, quando Brizola perdeu a sigla para Ivete Vargas.
Mais recentemente, em setembro de 2010, pouco antes das eleições presidenciais de novembro, Therezinha Zerbini foi a quinta pessoa a assinar o "Manifesto pela Defesa da Democracia",[16] lançado por intelectuais e políticos contrários ao Partido dos Trabalhadores. Na prática, o manifesto deveria reforçar a posição do candidato do PSDB José Serra, que, entretanto, acabou por perder as eleições.
Segundo ela "criar a Comissão da Verdade é bom. Não espero coisas novas, porque já vi tudo por dentro. Mas é preciso dar a oportunidade para os outros sentirem e verem. Como diz Santo Agostinho, o coração é a sede da memória."
Morte
[editar | editar código-fonte]Therezinha morreu em 14 de março de 2015, aos 87 anos, em São Paulo.[17] Seu corpo foi cremado em Vila Alpina, após a realização do velório no Cemitério do Araçá.[18]
Referências
- ↑ Diário Oficial, de 30 de abril de 2014, edição extra
- ↑ Museu da Pessoa. Depoimento de Eugenia Cristina Godoy de Jesus Zerbini
- ↑ a b c d CARBONI, Maria Cecília Conte "Maria Quitéria: o movimento feminino pela anistia e sua imprensa 1975 - 1979. São Paulo: PUC-SP, 2008.
- ↑ A filha do general. Por Luiza Villaméa. Brasileiros, n° 74, 18 de setembro de 2013].
- ↑ a b c Minha história - Therezinha Zerbini: A 'burguesona' que foi à luta. Por Eleonora de Lucena. Folha de S.Paulo, 1° de julho de 2012.
- ↑ A torre das donzelas. Por Luiza Villaméa e Claudio Dantas Sequeira. ISTOÉ n° 2120, 25 de junho de 2010.
- ↑ Dilma chora no Senado ao encontrar amiga com quem ficou presa durante a ditadura. Por Priscilla Mazenotti. Agência Brasil, 11 de março de 2008
- ↑ ONUBR - Nações Unidas no Brasil.A ONU e as mulheres Arquivado em 11 de março de 2013, no Wayback Machine.
- ↑ Mataram o Vlado Arquivado em 29 de setembro de 2013, no Wayback Machine., por Celso Miranda. Aventuras na História, 25 de outubro de 2012.
- ↑ Mulheres e política
- ↑ A anistia recíproca no Brasil ou a arte de reconstruir a História, por Daniel Aarão Reis Filho. In TELES, Janaína. Mortos e desaparecidos políticos: reparação ou impunidade? 2ª ed. São Paulo: Humanitas/ FFLCH-USP, 2001.
- ↑ DUARTE, Ana Rita Fonteles. Memórias em disputa e jogos de gênero: O Movimento Feminino Pela Anistia no Ceará (1976-1979). Anexo VI Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009.
- ↑ Movidas pelo afeto: três mulheres na resistência à ditadura no Brasil, Paraguai e Bolívia (1954-1989). Por Cristina Scheibe Wolff e Tamy Amorim da Silva.
- ↑ Duarte (2009) assinala que o modelo de estatuto escolhido pelo MFPA foi o do estatuto das "marchadeiras", grupo de mulheres paulistas que organizou a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em março de 1964.
- ↑ Carter: "Juntos pelo Estado de Direito." Publicado na Folha de S.Paulo, 30 de março de 1978
- ↑ Personalidades lançam manifesto em defesa da democracia. Estadão, 21 de setembro de 2010.
- ↑ «Morre Therezinha Zerbini, fundadora do Movimento Feminino pela Anistia». G 1. Consultado em 12 de abril de 2016
- ↑ «Morre Therezinha Zerbini, fundadora do Movimento Feminino pela Anistia». Revista Forum. Consultado em 12 de abril de 2016
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- ZERBINI, Therezinha Godoy. Anistia - Semente da Liberdade